Ricardo Ohtake: Gestão Cultural e Originalidade


Na noite da última segunda-feira (24/08), o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc recebeu o arquiteto, design e diretor do Instituto Tomie Ohtake, Ricardo Ohtake. Num encontro de cerca de duas horas, ele falou um pouco sobre sua carreira como gestor cultural em instituições públicas e privadas e sobre o que considera fundamental para quem pretende atuar como gestor.

Ricardo Ohtake inicia a conversa falando sobre sua passagem pelo Centro Cultural São Paulo (CCSP), na zona sul da capital Paulista. Ele foi o primeiro diretor da instituição, entre 1980 e 1983, e considera a criação do Centro um marco para a cidade, pois “foi um lugar interdisciplinar; um dos primeiros da capital que tinha cinema, local para exposições, biblioteca e tudo mais num mesmo espaço”.

O arquiteto falou rapidamente sobre suas experiências posteriores. Ele dirigiu o Museu da Imagem e do Som (MIS) entre 1989 e 1991, foi diretor da Cinemateca Brasileira entre 1992 e 1993, Secretário da Cultura do Estado de São Paulo entre 1993 e 1995 e Secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente entre 1998 e 2001. Sobre sua experiência no setor público, ele comenta: “eu tive que aprender a lidar com a burocracia para as coisas funcionarem. E funcionaram”.

Para ele, não há segredo nem fórmula pronta para gerir uma instituição cultural, seja ela pública ou privada. “Você precisa projetar”, explica, “Precisa ter um projeto muito claro do que você quer fazer para não desperdiçar tempo nem dinheiro”.

Desde 2002, Ricardo Ohtake está à frente do Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros. Se ao longo da primeira hora de encontro ele parecia comedido, a partir do momento em que narra a experiência de estar à frente do instituto que leva o nome de sua mãe, o arquiteto se empolga. Ele começa explicando a sensação inicial ao assumir o cargo: “Tinha uma característica totalmente diferente de tudo que eu já havia trabalhado antes, pois dessa vez não havia dinheiro público. Eu parti do zero, ou melhor, partir de menos que zero porque não havia dinheiro em caixa nem para as despesas básicas, como pagamento de contas e pessoal. O trabalho inicial foi para chegar ao zero e, só a partir daí, pensar em organizar exposições, mostras e projetos educativos”, conta .

Hoje o Instituto Tomie Ohtake é um dos mais visitados centros culturais da cidade. Finalizou recentemente uma mostra sobre o pintor espanhol Joan Miró e se prepara para abrir outra sobre a artista mexicana Frida Kahlo e suas contemporâneas.

Ricardo Ohtake continua o bate papo falando sobre a importância de ‘se fazer conhecer’ no meio cultural para adquirir credibilidade e criar uma network interessante. Gerir um espaço cultural “é um trabalho que envolve circulação. Você precisa ser conhecido, trabalhar sua reputação”. Ele exemplifica a importância disso falando sobre os empréstimos de obras entre instituições, prática comum no meio. “Muitas vezes você pensa em fazer uma exposição bacana, pesquisa e sabe onde buscar quadros e obras para aquela exposição. Mas eles [as instituições] só irão te emprestar se você tiver boa reputação, se já for conhecido no meio”, explica.

Perto do fim do encontro, Ohtake fala um pouco sobre o treinamento de pessoas para trabalhar com curadoria. Ele explica que tem uma equipe no Instituto que frequentemente se desloca para outras instituições em diferentes cantos do país para treinar seus profissionais. “No Brasil, esse tipo de formação ainda é precária. O lado bom é que as pessoas são habilidosas, aprendem rápido.” Ao ser questionado sobre as dificuldades logísticas desse processo de difusão de conhecimento realizado pelo Instituto, ele argumenta: “Dá trabalho, é verdade. Mas faz parte de nosso ofício essa coisa de ampliar o alcance das mostras. No final vale a pena”, narra sorridente.

Ohtake finaliza o encontro falando sobre características fundamentais para quem trabalha ou pretende trabalhar com gestão cultural: “Intuição é importante, sem dúvidas. Mas o que é fundamental é a originalidade. Se para se destacar na produção artística você precisa de originalidade, na gestão de arte também”.

O bate papo com Ricardo Ohtake foi parte do “Em Primeira Pessoa”, iniciativa do CPF que promove encontros gratuitos entre público e importantes nomes do cenário cultural. 


Texto originalmente publicado no site do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em junho de 2015.